quinta-feira, 29 de abril de 2010

Bastardos Inglórios

Truffaut dizia não entender o raciocínio segundo o qual mostrar a violência faz com que as pessoas se voltem contra ela. Daí seus filmes.
Tarantino é um terceiro caso. Seus filmes não estão falando da violência, seja como contestação ou não.
A violência nesse cinema é parte natural (ver Natural Born Killers) de uma paisagem escolhida por onde desfilam aspectos sombrios - estes sim a base de seu discurso - de uma mesma humanidade. O que há de grande em seus trabalhos não é a destreza em jorrar sangue na tela de maneiras inovadoras - opção plástica de um cineasta formado por westerns e filmes chineses - mas, ao fazer isso, fazer outra coisa.

Tarantino, com seu virtuosismo roteirístico (sem dúvida um dos melhores dialoguistas contemporâneos, mestre do subtexto que tem seus diálogos elogioados por Roger Ebert) também está o tempo todo tratando de cinema, pela explicitação da autoria (como fundou Godard e sua trupe). É de novo o cinema consciente de si mesmo. Bastardos Inglórios é um filme auto-referente e que faz desse recurso um procedimento artístico de grande qualidade, de efetivo resultado. Há por exemplo um personagem que tem uma tese sobre o subtexto nos Irmãos Marx.
Aqui também não há bons e maus - a exemplo de Kieslowski - como nos outros filmes do cineasta. Há humanidade em suas nuances mais intensas. Tarantino substitui o comum alterego (promovido bastante por Truffaut) pela multiplicidade de representações que na verdade todos somos.
Bastardos Inglórios dá ao cinema a superação da História ao eliminar Hitler, seus ministros e os futuros horrores da segunda guerra. E o faz poética e metalinguisticamente, quando um negro ateia fogo aos rolos de filmes inflamáveis na première nazista.
Coisa boa saber que o cara ainda é jovem e vem mais por aí.

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