segunda-feira, 10 de outubro de 2016



                           Lítio 


                   Escuridão noturna ,não há luz e não consigo enxergar a imensidão ,tomo lítio pela manhã e ameniza minha depressão e fortalece meu antidepressivo ,já não penso em morte ou cair de um abismo .Há um sol eu enxergo a brisa saio para caminhar e vejo que não estou sozinha 

                Priscila Lima Oliveira 

         Biblioteca Malba Tahan 

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Vocacional Literatura - Narrativa Coletiva 1

Chegou apressado em casa, fugindo da chuva que se iniciava. Quando abriu a porta

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Andar com Fé, de Francisco Glauter

Antes mesmo de sua estréia tive o privilégio de ver em primeira mão o novo trabalho de Francisco Glauter.
O videoasta (ou como queiram chamar os entendidos) cearense, radicado em São Paulo, depois de cinco ficções, finalizou agora seu primeiro documentário.
A mesma concisão aprendida nos curtas anteriores está presente também nesse trabalho.
Andar de Fé mostra o retorno de Glauter à sua terra natal. Esse retorno, no entanto, adquire caráter analítico pelo recurso à linguagem artística.
Em Juazeiro a câmera do diretor aproxima-se o mais que pode dos peregrinos que afluem até a grande estátua do Padre Cícero e perscruta em rápidas micro-entrevistas seus motivos - ou ainda, um leitmotiv para o próprio filme.
Entremeadas a essas passagens estão as palavras de Dona Quitéria de França, uma requisitada cantadora religiosa da região, que narra sua vinda com toda a família, numa viagem de dezenas de dias, a pé, até Juazeiro décadas atrás.
O mais bonito do filme, além de sua segurança técnica, é a maneira como Glauter permite a interferência de seus "personagens" numa opção documental mais próxima de Raymond Depardon que de Eduardo Coutinho.
Creio que o cinema de Glauter conheceu aqui, pela primeira vez, uma universalidade mais completa - essa universalidade da oralidade, da narrativa livre, verdadeira, pela qual o filme se deixa levar.
Também merecem destaque a luminosa fotografia, auxiliada pelos ainda típicos sol e ar do Cariri, e a trilha original composta para rabeca por Dalton Martins (eu preferiria algo menos tradicional).
Glauter está editando seu primeiro longa, também documentário. Penso que esse é um caminho para mais chances a esse valoroso realizador independente de uma devida maior visibilidade.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Núcleo Expressões

O segundo trabalho do coletivo Núcleo Expressões, Cinegético, lançado em evento este sábado, aprofunda questões propostas no vídeo anterior.
O grupo, formado por artistas de diferentes áreas (dança, literatura, vídeo, fotografia, música e teoria – esta última representada por Jimmy Brandon, que palestrou sob o mote “a estética de seu tempo” para abrir a noite) em seu projeto de estréia, Movimento, pesquisa a - ainda bastante desconhecida no Brasil - linguagem da vídeo-dança.
O centro de interesse de Movimento é a relação cotidiana do corpo com o espaço urbano.
Se no primeiro vídeo explorou-se o aspecto doméstico dessa relação, com os bailarinos/atores dentro de uma casa numa manhã qualquer, agora a exploração parte para além das residências rumo aos intrincados caminhos da grande cidade, onde, como diz Itamar: “não há saídas, só ruas, viadutos e avenidas”. Essa mudança resultou num trabalho menos linear e cinematográfico e mais performático, o que certamente aponta para experimentações cada vez mais livres.
Em Cinegético, o corpo abandona sua passividade para questionar o espaço através de uma atitude física desautomatizada. Os bailarinos assumem uma dupla experiência, como performers de um evento real (as intervenções para as filmagens acontecem sem que os figurantes/transeuntes tenham sido avisados) e como personagens de uma obra.
É muito perceptível a contribuição de cada um dos artistas envolvidos e sua importância para o conjunto. Sem hierarquização, o diálogo entre as diferentes “expressões” concorre para uma coerente condensação reflexiva, com muita sutileza e equilíbrio.
Depois de assistirmos a Cinegético, e esta é uma impressão de todos os que viram sua estréia, conforme conversa com o coletivo no final do evento, parece-nos que a hibridação das artes é uma boa resposta para ao mecanismo social contemporâneo baseado na convergência descriteriosa de todas as coisas.
Mais em:
onucleoexpressoes.blogspot.com (página em construção)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Carne - KIWI


Foi com algum receio que assisti a estréia paulista do espetáculo da Cia KIWI, Carne, num congresso feminista dentro do colégio interno Pio XI, na Vila Madalena. Receio por dois riscos comuns ao teatro político/crítico/reflexivo: didatismo e complicação (o que é diferente de complexidade) discursiva.
Ao final, no entanto, grata surpresa, o que pude ver foi uma montagem muito equilibrada em que o referencial teórico implícito não sobrepuja uma boa organização imagética.
Todas as coisas estavam lá para alívio do público: a informação (crítica, denunciante) e a plasticidade de uma boa obra de arte – junção que ainda que pareça fácil tem sido das mais raras.
A proposta da KIWI é uma pesquisa, pela ação teatral, a respeito das relações entre capitalismo e patriarcado (o que necessariamente leva o grupo a destacar a mercantilização generalizada e os múltiplos exercícios de poder que regem a ordem social).
A mulher, centro do espetáculo, é vista de fora para dentro, por meio da explicitação de um enorme conjunto de símbolos que determinam sua experiência.
A encenação/representação, um tanto anti-teatral, mescla ainda linguagem jornalística, em leituras diretas de matérias sobre violência contra mulher, projeções visuais, canções reinterpretadas e excelente sonorização ao vivo criada por Eduardo Contrera.
Direção de Fernando Kinas, com Fernanda Azevedo e Mônica Rodrigues.
Ao final, de acordo com as intenções do projeto, há uma conversa temática com o público.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

quando roberto piva morrer
haverá uma inundação
uma nova ausência
a falência de uma multinacional
um coro de elefantes na áfrica
ninguém mais morrerá nesse instante
depois tudo voltará ao silêncio

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Para os ouvidos:

www.myspace.com/haybanda

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Bastardos Inglórios

Truffaut dizia não entender o raciocínio segundo o qual mostrar a violência faz com que as pessoas se voltem contra ela. Daí seus filmes.
Tarantino é um terceiro caso. Seus filmes não estão falando da violência, seja como contestação ou não.
A violência nesse cinema é parte natural (ver Natural Born Killers) de uma paisagem escolhida por onde desfilam aspectos sombrios - estes sim a base de seu discurso - de uma mesma humanidade. O que há de grande em seus trabalhos não é a destreza em jorrar sangue na tela de maneiras inovadoras - opção plástica de um cineasta formado por westerns e filmes chineses - mas, ao fazer isso, fazer outra coisa.

Tarantino, com seu virtuosismo roteirístico (sem dúvida um dos melhores dialoguistas contemporâneos, mestre do subtexto que tem seus diálogos elogioados por Roger Ebert) também está o tempo todo tratando de cinema, pela explicitação da autoria (como fundou Godard e sua trupe). É de novo o cinema consciente de si mesmo. Bastardos Inglórios é um filme auto-referente e que faz desse recurso um procedimento artístico de grande qualidade, de efetivo resultado. Há por exemplo um personagem que tem uma tese sobre o subtexto nos Irmãos Marx.
Aqui também não há bons e maus - a exemplo de Kieslowski - como nos outros filmes do cineasta. Há humanidade em suas nuances mais intensas. Tarantino substitui o comum alterego (promovido bastante por Truffaut) pela multiplicidade de representações que na verdade todos somos.
Bastardos Inglórios dá ao cinema a superação da História ao eliminar Hitler, seus ministros e os futuros horrores da segunda guerra. E o faz poética e metalinguisticamente, quando um negro ateia fogo aos rolos de filmes inflamáveis na première nazista.
Coisa boa saber que o cara ainda é jovem e vem mais por aí.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Refém das Idéias - Estréia de Gracco Oliveira

Poetas jovens deixaram de ser comuns, o que parece ser sintomático e apontar para problemas em que Gracco toca.
Essas as duas primeiras surpresas imediatas: os 20 anos do autor e sua criticidade múltipla.
Os poemas de Gracco operam bastante pela ironização de chavões ao invertê-los demonstrando a fragilidade esquemática de suas afirmações. Aqui “A Prece” diz “não nos deixeis / cair em tentação / e livrai-nos da religião / amém!”; “o Ministério da Saúde adverte / mentira faz mal ao caráter”; e duvida-se que “no princípio era o verbo?”.
Estamos, em boa parte do livro, diante do poema-joguete, do verso-tirada, herança (consciente?) da poesia de desbunde setentista.
Outras semelhanças com os desbundados são o sintetismo e o radicalismo das opiniões.
Também é grata surpresa encontrar no autor, além de um pungente lirismo – emocionante em diversos momentos – uma anti-poesia ousada, menos impositiva que Marianne Moore ou Kaváfis, mas mais despojada, narrativa e em sutil equilíbrio, talvez bandeiriano: “Dizem que ele ameaçou o motorista - / por esse não ter parado no ponto – dias / antes de ser atropelado". Em alguns poemas o combate ao cânone imagético ocidental é direto: “As janelas não matam a sede. / O infinito exige, no mínimo, / uma varanda”
A última parte do livro, que graficamente não se separa das demais por nenhuma demarcação, contém as páginas menos consistentes/empolgantes de Refém das Idéias. Temos poucos Poetas políticos de maneira geral, e Gracco perde-se um tanto nessa velha empreitada – em parte pela visão tradicionalista e generalizante (apesar de sua aparente pessoalização do marxismo) e em parte porque política, ao menos a macropolítica a que ele se refere, não é assunto – não me desculpem os opositores – muito poético.
Há ainda que se comentar o caso dos sonetos, que surgem num grupo de 5 no livro. O soneto por si só perdeu prestígio e primazia há pelo menos um século. O que ainda lhe resta de interessante sãos as poucas transgressões discursivas (visto que formalmente está encerrado (?)), como as propostas por Glauco Mattoso. No caso de Gracco servem no mais para tornar o livro mais diverso, mais pós-moderno do que sem eles seria.
Refém das Idéias é raro em vários sentidos: por existir, publicado, num país (numa cidade!) em que bons livros viram pó ou qualquer coisa jamais lida; por ser autoral entre uma onda (inclusive virtual, e espetacular no atual retorno dos sarais) de plágio compulsivo coletivo; por ser uma aposta, ainda – o que confirma sua revisão assumida por Reni Adriano.

terça-feira, 9 de março de 2010

Escritura

Ao escritor é necessária a escritura como uma lâmina que descesse sobre o tempo repartindo-o para que se possa prová-lo aos bocados, bolo. Escrever é fundamentalmente confrontar o tempo.
Escritores por toda a história da literatura alegaram diferentes motivos para seus trabalhos (há uma bela seleção de algumas dessas declarações editada pela Escrituras sob o título Porque Escrevo?), mas estas duas coisas estão além de suas alegações: não se escreve sem tempo e sem trabalhar.