quarta-feira, 18 de maio de 2011

Andar com Fé, de Francisco Glauter

Antes mesmo de sua estréia tive o privilégio de ver em primeira mão o novo trabalho de Francisco Glauter.
O videoasta (ou como queiram chamar os entendidos) cearense, radicado em São Paulo, depois de cinco ficções, finalizou agora seu primeiro documentário.
A mesma concisão aprendida nos curtas anteriores está presente também nesse trabalho.
Andar de Fé mostra o retorno de Glauter à sua terra natal. Esse retorno, no entanto, adquire caráter analítico pelo recurso à linguagem artística.
Em Juazeiro a câmera do diretor aproxima-se o mais que pode dos peregrinos que afluem até a grande estátua do Padre Cícero e perscruta em rápidas micro-entrevistas seus motivos - ou ainda, um leitmotiv para o próprio filme.
Entremeadas a essas passagens estão as palavras de Dona Quitéria de França, uma requisitada cantadora religiosa da região, que narra sua vinda com toda a família, numa viagem de dezenas de dias, a pé, até Juazeiro décadas atrás.
O mais bonito do filme, além de sua segurança técnica, é a maneira como Glauter permite a interferência de seus "personagens" numa opção documental mais próxima de Raymond Depardon que de Eduardo Coutinho.
Creio que o cinema de Glauter conheceu aqui, pela primeira vez, uma universalidade mais completa - essa universalidade da oralidade, da narrativa livre, verdadeira, pela qual o filme se deixa levar.
Também merecem destaque a luminosa fotografia, auxiliada pelos ainda típicos sol e ar do Cariri, e a trilha original composta para rabeca por Dalton Martins (eu preferiria algo menos tradicional).
Glauter está editando seu primeiro longa, também documentário. Penso que esse é um caminho para mais chances a esse valoroso realizador independente de uma devida maior visibilidade.

Um comentário:

  1. Otimo artigo, Carlos!

    Seu texto é um deleite e um elogio ao estilo !

    abraço

    ResponderExcluir