Amor a Flor da Pele
Impressiona-me a quantidade de rejeições ao cinema de Wong Kar Wai. Críticos precipitados chegam ao cúmulo de reduzi-lo à “estética MTV”. Ingênua incompreensão.
Amor a Flor da Pele (In the Mood for Love), seu trabalho mais conhecido, é a síntese do cinema proposto por este grande chinês.
Sr. Cham e Sra Chow acabam de mudar-se no mesmo dia para apartamentos vizinhos, na Hong Kong dos anos 60, e, solitários devido as constantes viagens dos respectivos cônjuges, aproximam-se até a descoberta de que são mutuamente traídos.
Com roteiro simples mas engenhoso onde os dois personagens elaboram um estranho jogo teatral para tentar descobrir o âmago da traição de seus companheiros (honrando a máxima hithicockiana de que “para um bom filme são necessárias três coisas: roteito, roteiro e roteiro”), o filme potencializa-se na delicadeza e na soberba estética de Kar Wai na confecção de cada quadro.
Ao propor a espetacularização dos gestos, principalmente pela utilização de câmeras lentas, Kar Wai consegue um estonteante efeito dramático dado pela supervalorização dos temas, e também contradiz seus opositores críticos por acarretar a estas seqüências alta carga simbólica. Disse ele certa vez que “um dos maiores privilégios do cineasta é o domínio do tempo”. Assim ele apossa-se dos recursos que cabem à sua arte com autonomia e sutileza.
A existência de um cinema de qualidade baseado na exploração do fetiche da imagem na sociedade contemporânea é por essência irônica e contestatória.
Amor a Flor da Pele é a história de uma paixão suprimida pela seguridade social que subjuga a subjetividade dos indivíduos - assim como o foi Desencanto, de David Lean, na década de 40, outro grande filme.
Um dos filmes mais sensuais já realizados, não possui um beijo sequer. Tudo clama pela realização do amor: desde o figurino, a decupagem e os cenários, até a composição velada dos personagens. A impossibilidade do amor é o motivo central da obra de Kar Wai e está presente em todos os seus filmes.
Amor à Flor da Pele anuncia a exuberância de 2046, sua seqüência moderna.
Ansiosos esperamos o dia em que os VJ’s da Music Television ofereçam tamanho espetáculo.
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