segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Preconceito Lingüístico, o que é, como se faz

Vale o registro de um didatismo pertinente:

O livro de Marcos Bagno, já cult entre estudantes de letras, é um libelo radical contra o tradicionalismo retrógrado presente na maneira geral de pensar a língua portuguesa.

Já no início do livro Bagno registra dois conceitos fundamentais para compreensão do seu discurso: ‘‘‘Existe uma regra de ouro da Lingüística que diz: ‘só existe língua se houverem seres humanos que a falem’. E o velho e o bom Aristóteles nos ensina que ‘o ser humano é um animal político’”.

Trata-se, portanto, de uma obra lingüística e, sobretudo, política, que transpõe a demagogia numa opção consciente e parcial.

O Preconceito Lingüístico, o que é, como se faz é um livro essencialmente combatente contra as convenções que retardam nossa compreensão sobre a língua que falamos.

Marcos Bagno é um assaz observador e encontra, em suas análises, coerentes argumentos de denúncia. Demonstra que perto da modificação contínua da língua a gramática é uma convenção estática, “um igapó”, propondo um franco combate contra os gramáticos tradicionalistas que provocam a mistificação da língua auto intitulando-se os únicos capazes de entendê-la. Faz uso dos Parâmetros Curriculares Nacionais como prova de que as idéias sobre a língua estão se modificando e ressalta a importância dos professores nesse processo. Fala da imensa influência da mídia na perpetuação dos preconceitos. Dá um caráter político-social revelador ao problema da língua.

O radicalismo consciente de Bagno está presente até mesmo em sua maneira de escrever, que, afirmando suas posições diante da língua, alcança uma fluidez e um despojamento argumentativo brilhantes e ousados num livro de ensaio.

O Preconceito lingüístico nos alerta para o fato de que nossa sociedade necessita redescobrir-se em diversos aspectos para solução de seus problemas.

Diferente dos demais preconceitos, que recebem contestação direta das pessoas, o preconceito lingüístico passa despercebido, o que torna mais difícil sua superação.

Um livro que dialoga com as tradições sociais da lingüística respeitando os estudiosos, mesmo gramáticos, que aceitam as transformações naturais da língua.

Ao nomear seus adversários político-intelectuais, o autor dá ao seu discurso uma legitimidade notável.

Mostra-nos como o preconceito é filho ruim da mais resistente ignorância que se ufana de si mesma.

Marcos Bagno conseguiu a raridade de conceber um livro, entre tantos os que há, que é necessário. Tanto quanto o foi sua bela carta para revista Veja anexa ao livro.

2 comentários:

  1. Eu também li este livro. Há um mês atrás tive a oportunidade de participar de um colóquio sobre as Ciencias da Linguagem onde M. Bagno contribuiu com a exposição de sua pesquisa sócio-linguística. Adorei!
    Ele tem humor negro.

    Abraços
    Su

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  2. Vejo o livro do Bagno seguindo o rastro do Estudos Culturais e do desconstrutivismo.
    Acho muito pertinentes as questoes que ele propoe, é um grande panorama Socio-lingistico.
    Por outro lado, e para ser muito breve, noto um certo populismo academico, no sentido do estudo produzido com vies militante, bem na linha ideologica de esquerda.
    Sobre os danos causados por tal "estilo" muito ja foi publicado e discutido. Por isso acho que vale a pena aplicar ao estudo um olhar critico das ideologias e em sintonia com o debate que tal querella tem suscitado.
    Um grande abraço

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