sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sobre Roberto Piva

O primeiro livro de Roberto Piva, “Paranóia”, hoje considerado seu trabalho mais emblemático, lançado em 1963, inaugurou uma obra que pelos trinta anos seguintes irá refletir sobre as heranças poéticas que atravessaram o século dos poetas brasileiros.
Sendo conceitual, apesar de não ser a conceituação o centro de sua poética, tudo o que nos poemas de Piva parece até mesmo prosaico adquire grande intenção e importância discursiva. Dessa forma a violência assumida pelo poeta representa a condição intrínseca de uma obra de arte que nascida de um mundo atroz só pode partir dessa própria violência para que exista. O próprio ato criador torna-se também uma violência.
Divididas em três partes distintas, as fases criativas de Piva comentam o passado lírico nacional e apontam - pelo apuro de seus recursos, como poucas outras propostas de poesia recente - para uma nova direção às nossas letras.
Roberto Piva exacerba a liberdade adquirida pela poesia brasileira desde a fundação da semana de 22 levando-a a camadas linguisticamente pouco tocadas por poetas anteriores. Sua poesia assimila e reflete a linguagem mais informal, mais comum às esferas mais excluídas do extrato social, remontando as proposições de Manuel Bandeira na primeira fase do modernismo: Bandeira (2008 p. 18) “Quero antes o lirismo dos loucos. O lirismo dos bêbados. O lirismo difícil e pungente dos bêbados. O lirismo dos clowns de Shakespeare. – Não quero saber do lirismo que não é libertação”.
Paradoxalmente Roberto Piva encontra também na radicalização das proposições modernistas o declínio de algumas dessas mesmas proposições na sociedade contemporânea e pós-moderna. Piva ultrapassa o intento de uma unidade poética nacional, já estabelecida pelo cânone, para uma unidade universal de cuja tradição a poesia brasileira faça parte. Assim, sua obra flerta com o Movimento Surrealista ao mesmo tempo em que assume traços da estética beat junto a demarcadas influências de obras de poetas brasileiros.
Piva abandona também a idéia da formação de um discurso lógico, em função de uma exclamatividade dionisíaca empírica em que o leitor é apresentado a um universo particularmente orgiástico onde a poesia toma para si o sentido de todas as coisas.

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